Encontrei este texto em um caderno antigo, de quando era ainda
adolescente – então é bem antigo mesmo!... É engraçado ver como nessa fase
somos tão exagerados, tudo parece mais intenso do que realmente é... As
paixões, as contradições, a dor...
Ele parece escrito por alguém que passa por uma profunda crise
existencial – pelo menos é o que parecia na época –, mas na verdade é de alguém
que passa pela terrível dor de deixar de ser criança...
Depois acabamos descobrindo que não necessariamente teremos que
abandonar essa criança que existe em nós, que esse na verdade é só mais um
momento de adaptação, como tantos outros que teremos vida a fora... Mas acho
que esse sentimento de ruptura é que causa essa sensação tão intensa; um vazio
que até então não se está acostumado a sentir...
Hoje em dia vejo que este sentimento vem se revelando cada vez mais
cedo, porque a infância perde espaço a cada nova geração, para necessidades, ou
o que é pior, para obrigações que nos fazem caminhar em sentido contrário ao daqueles
anseios mais íntimos, que verdadeiramente alimentariam nossa alma...
“Eu caminho ao lado de um
abismo... E neste momento estou virado para ele. Eu posso vê-lo, tão profundo,
tão presente, tão indesejável, mas tão fascinante... Tudo é escuridão e medo. E
se faz trevas em meu pensamento... Um passo em falso e lá se vai meu auto
controle...
Do outro lado é dia, mas o
sol me cega... é mais gostoso olhar para o buraco negro que me seduz...
As pessoas fogem para o outro
lado, mas eu ouço seus gemidos, elas podem enxergar, mas a luz é muito forte e
só existe dor. Aqui tudo é silêncio e escuridão...
Eu vou saltar...
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